quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

035 - 2a. Parte - Construindo uma cidade - Saindo do virtual


Saindo do virtual...

Após umas férias magníficas em Gramado e Canela – Rio Grande do Sul – voltei à minha dura realidade...

Já faz muito tempo que não saio de casa para trabalhar...

O tempo aqui no Rio ainda está um pouco instável e acabo adiando por uma semana o início da obra...

Estou  morrendo de medo...

Quase chego a pensar em abortar a empreitada...

É muita responsabilidade...

Estamos agora a falar em obra real, com cimento, areia, pedra, pó, sujeira, e outros bichos...

Isto num ambiente totalmente selvagem, não mais o meu confortável e climatizado escritório...

Deixar o meu habitat virtual e emergir no rude e rústico ambiente real...

Meus amigos e familiares não entendem bem o porquê de tal loucura, e eu quase começo a dar-lhes razão...

As chuvas terminaram e o rei Sol exibe-se em todo o seu esplendor...

Estamos em pleno verão – Rio 40 Graus...

Encho-me de coragem e dou inicio às encomendas de material...

Agora não tem mais volta... (vulgo “ferrou”...)

Neste tipo de obra 70% do material é adquirido logo no início, e como se trata de uma pequena casa, tenho que agrupar as compras para que os montantes sejam significativos para darem lugar aos respectivos descontos...

Pormenor: convém não errar muito... rss...

A primeira coisa a fazer é o barracão (até parece escola de samba... rss...).

Encontrei o fornecedor bem distante da obra, mas ele só entrega às sextas-feiras...

Não seja por isso... Aqui o problema torna-se solução...

Está encontrado o dia do início da obra: próxima sexta-feira - 20 de Janeiro 2012, dia de S. Sebastião padroeiro da cidade do Rio de Janeiro...

Aqui no Rio o horário da construção civil, quando não se deseja trabalhar aos sábados, é das 7 às 5, o que significa que tenho de sair de casa às 6:15...

Coloco o despertador para as 15 para as 5, ou cinco menos um quarto se preferirem e tento dormir...

É claro que às duas da madrugada já estou desperto e fico revendo todo o projeto, para verificar se ainda subsistem algumas falhas...

O despertador finalmente toca e levanto-me de sobressalto para encarar aquele dia tão especial...

Já no carro e com os pensamentos a mil ao entrar na via principal vejo que está com transito muito intenso beirando o caos...

Um pequeno pormenor havia me passado despercebido:
- Como é feriado na cidade do Rio e o sol está brilhando em toda a sua magnificência, parece quase o êxodo dos judeus do Egito... Os cariocas fazem fila na estrada para a região dos Lagos, que por acaso é a mesma que dá acesso ao condomínio onde vamos construir...

Em Manilha o transito chega a parar e vejo-me na obrigação de ligar para o encarregado avisando que irei chegar atrasado...

Muito bonito... Atrasado no primeiro dia de trabalho... E eu que detesto chegar atrasado...

O dia não está começando muito bem...

Felizmente aquela paragem não foi muito demorada e mesmo com o transito muito pesado consegui chegar dentro dos dez minutos de tolerância plausíveis...

Logo na chegada mais uma má novidade apareceu:

Um dos serventes não tinha aparecido...

Segunda má notícia do dia e ainda nem havíamos iniciado a obra...

Será um mau presságio?...

Estava eu, o encarregado José, e um servente, frente a um lote vazio onde somente subsiste uma pequena árvore...

Foto 01 - nosso lote e a construção do lote vizinho...

Um lindo dia estava acabando de nascer e o calor já se fazia sentir...

O grande dia finalmente tinha chegado e estava na hora de iniciar os trabalhos...

Enchi meus pulmões de ar e declarei:

Vamos ao trabalho meus senhores...

A tarefa do dia seria fazer o barracão para termos lugar para guardar as ferramentas pesadas, cimento e outros materiais, um banheirinho (que ninguém é de ferro) e uma parte coberta com bancada destinada à execução de pequenos trabalhos e nos fornecer abrigo nas intempéries...

Maior parte do material dependia daquele fornecedor que só entregava às sextas-feiras e que nos levou a iniciar a obra naquele dia.

Como o material só chegaria durante o dia, começamos a demarcar o terreno e a marcar o posicionamento do “radier” (alicerce em forma de laje) onde iríamos erigir a casa.

Marcamos também o lugar da fossa e do filtro anaeróbio (que funciona sem deixar entrar o ar) e o servente pôde começar a cavar os respectivos buracos...

O Sol estava de matar passarinho em pleno vôo...

Era o dia mais quente do ano até ao momento... 

Minha pele sensível e totalmente desabituada de tais agressões solares, ardia feito peixe em óleo fervente e a sede era de matar...

Felizmente o experiente encarregado tinha previsto tal situação e havíamos levado alguma água gelada, mas que logo acabou...

Saí para comprar água e adquirir no mercado local alguns materiais...

Na volta, vi que o caminhão de pedra estava chegando e encomendei também um caminhão de areia.

Infelizmente a capacidade dele era menor que havia previsto e vi que teria de encomendar um pouco mais depois...

A madeira para fecho do barracão – MDF – havia chegado, mas o principal ainda não... Isso é demais para mim, rss...

O servente continuava cavando o solo...


Depois de escassos centímetros o solo ficou bem duro... 
Muito bom para o alicerce, péssimo para quem tinha de cavar um buraco de um metro e outro de dois...

Disse-lhe para ir devagar... Que o Sol estava muito intenso e ele teria que fazer algumas pausas para se hidratar e fugir daquele sol impiedoso...

Eu me refugiava na sombra sempre que possível e mesmo assim já estava com a minha pele pegando fogo e totalmente exausto...

Era por isso que tinha contratado dois serventes... Numa situação destas a divisão do trabalho resolveria o problema... A falta de um deles,  fez com que este ficasse ali isolado, debaixo daquele sol e com certeza não iria agüentar por muito tempo.

Eu e o José batemos o nível do terreno e mais um imprevisto surgiu...

Era necessário nivelar o terreno e a quantidade de terra a mover-se era significativa...

Perguntei ao meu fornecedor local se me poderia arranjar 3 serventes e ele disse que segunda-feira estariam na portaria do condomínio à minha espera...

Numa obra as decisões necessitam de ser quase imediatas, senão o ritmo se perde e a coisa desanda...

Trabalhar sob um sol violento já é difícil, imaginem se não damos ritmo à obra?...

O material não pode faltar, e sempre temos de ter tarefas alternativas – parar é morrer...

O encarregado sugeriu que o homem da máquina retro-escavadora ao passar de manhã tinha-se posto à disposição...

Não pensei duas vezes e fui falar com ele...

Excelentes notícias, por cem reais ele faria o serviço no final do dia e ainda cavava aquele imenso buraco que nos estava angustiando...

Mandei o servente parar, liguei para desmarcar os 3 ajudantes e pedi só dois...

Afinal aquele contratempo talvez se voltasse a nosso favor, pois aquele buraco estava-me preocupando demais...

Tive a infeliz idéia de ir almoçar em casa, pois queria aproveitar e pegar mais alguns elementos do computador, mas tornou-se num grande erro...

Aquela via que de manhã estava um caos, agora estava bem ordenada, mas totalmente parada...

Aproveitei para ligar para a menina da madeira e ela me disse que o caminhão já tinha saído e que a qualquer momento estaria chegando na obra...

Após ter tentado um caminho alternativo que não deu em lugar algum, fui por outro onde o transito estava um pouco melhor... Nessa brincadeira perdi quase duas horas e a minha paciência, é claro...

A madeira não tinha chegado ainda e nada mais se podia fazer... O pior estava acontecendo: os homens estavam parados...

Mas se a máquina viesse no final da tarde recuperaríamos esse tempo perdido...

Por volta das quatro horas voltei a ligar para a madeireira, foi quando a menina me disse que afinal a madeira não pôde seguir porque um caminhão tinha se quebrado, mas que no dia seguinte, pelas primeiras horas ela estaria na obra sem falta...

Eu fiquei doido... Iniciamos a obra naquela sexta-feira por causa daquele fornecedor e agora, só às quatro horas da tarde a menina me diz que eles não vão poder entregar a mercadoria... É claro que a menina teve que ouvir algumas verdades e pedir algumas desculpas...

Mais um revés, e desta vez dos grandes...

O objetivo do dia tinha ido para as “cucuias”, e estávamos ali os três com cara de palermas olhando uns para os outros à espera da famigerada máquina...

Mas se ele viesse pelo menos algo se iria resolver...

Dá cinco horas e a expectativa aumenta... Já perto das cinco e meia e em estado de choque, pego no carro e vou ver se encontro o homem da máquina...

Novidade: Ele tinha-se ido embora... 


Fiquei furioso, mas um dos homens que estavam na portaria disse-me que no dia seguinte ele estaria no condomínio para fazer alguns trabalhos particulares...

A esperança é a última que morre e como tínhamos que lá ir no dia seguinte para receber a madeira, talvez se encaixa-se de forma bem deformada... Talvez os defeitos se tivessem transformado em feitios...

Voltei para o lote meio cabisbaixo e dei a triste notícia para o pessoal...

Protegemos o material que chegou com um plástico, pedimos ao vizinho para ficar de olho e viemos para casa...

Conclusão:

Depois de meses e meses de projeto e preparação o primeiro dia foi um verdadeiro DESASTRE...

Voltei para casa com um sorriso bem forçado, e depois do banho apaguei no sofá após de ter ingerido um pequeno sanduíche...

Sonhador sofre... rss...
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Será que o sábado vai compensar todas essas desventuras?...

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Não percam as novas aventuras do português sonhador metido a pedreiro... rss...


terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

NOTA:
Embora eu esteja recebendo os vossos comentários eles não estão aparecendo no blog...
Creio que o problema seja do soft do BLOGGER...
Estou abrindo esta nova postagem para que possam postar vossos comentários aqui...


Até breve...